Há um fato curioso a respeito da mariposa imperial: ela sai do casulo por uma abertura que nos parece pequeno demais para o seu corpo. E, interessante, não deixa vestígio de sua passagem: um casulo vazio é tão perfeito como um casulo ocupado. Vim a saber que, segundo se supõe, a exígua abertura desse casulo é uma provisão da natureza para forçar a circulação dos humores nas asas da mariposa, asas que ao tempo da eclosão são menores que as de outros insetos congêneres.
Certa
vez guardei por bom tempo um desses casulos, que têm interessante forma
cilíndrica. Estava ocupado. Eu anelava por ver chegar o dia da saída do
inseto. Finalmente o dia esperado chegou: e lá fiquei eu uma manhã
inteira, interrompendo a todo o momento o meu serviço, para observar a
trabalhosa saída da mariposa.
Mas
no meu entender, aquela saída esta trabalhosa demais! Pensei que talvez
fosse por ter o casulo ficado tanto tempo fora de seu habitat, quem sabe
sob condições desfavoráveis. Podia ser que suas fibras se tivessem
ressecado ou enrijecido. E agora o pobre inseto não teria condições de
sair dali.
Depois
de muito pensar, arvorando-me em mais sábio e compassivo que seu Criador,
resolvi dar-lhe uma pequena ajuda. Tomei uma tesoura e dei um pique no
fiozinho que lhe embaraçava a saída. Pronto! Sem mais dificuldades, lá
saiu a minha mariposa, arrastando um corpo intumescido. Fiquei atento e
curioso para ver a expansão de suas asas encolhidas, o que é um
espetáculo admirável aos olhos do observador. Olhava curiosamente
aqueles minúsculos pontos coloridos, ansioso por vê-los dilatarem-se,
formando os desenhos que fazem da mariposa imperial a mais bela de sua
espécie. Mas, nada... E o fenômeno nunca se deu!
Em
minha pressa de ver o inseto em liberdade, em havia, sem o saber, impedido
que se completasse o laborioso processo que estimularia a circulação nos
minúsculos vasos de suas asas! E a minha mariposa, criada para voar
livremente pelos ares, atravessou sua curta existência arrastando um
corpo disforme, com asas atrofiadas.
Muitas
e muitas vezes tenho-me lembrado desta mariposa quando observo, com olhos
compassivos, pessoas que se estão debatendo em meio a sofrimento,
angústias e dores. Eu de bom grado lhes cortaria a disciplina e daria
liberdade. Homem sem visão! Qual dessas dores poderia sem dano ser
ocupada? A perfeita visão, o perfeito amor, que deseja a perfeição de
seu objeto, não recua por uma fraqueza sentimental diante do sofrimento
presente e transitório. O amor de nosso Pai é muito verdadeiro para
fraquejar. Porque ele ama a seus filhos. Ele os corrige, a fim de
fazê-los participantes da sua santidade. Com este glorioso fim em vista,
ele não nos poupa o pranto. Aperfeiçoados através do sofrimento, como
seu Irmão mais velho, os filhos de Deus são exercitados na obediência e
trazidos à glória, através de muita tribulação. - de um folheto
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