Desde pequena ouço minha mãe dizer que “tudo o que é demais sobra”.
Ela dizia isso em diversas ocasiões: quando se referia ao tempo a mais
que eu queria passar na casa das coleguinhas para brincar; quando eu
queria comer mais guloseimas do que ela me determinava a cada dia;
quando eu passava tempo demais assistindo TV; quando eu queria dormir
mais do que o necessário. Nos meus dias de criança não entendia muito o
porquê de receber tantos “nãos” da minha mãe. Com o passar dos anos
aprendemos, entendemos, ou pelo menos deveríamos entender aquilo que
certos pais querem realmente dizer com alguns “nãos” que dão a seus
filhos. A lição que está nas entrelinhas da educação é que: “Os excessos
adoecem o ser humano e apodrecem a sociedade.”
Essa é uma verdade que não se pode negar. Tudo que vem em excesso
torna-se prejudicial ao ser humano. O excesso de comida, por exemplo,
pode trazer sérios problemas à saúde. Começa com aquela terrível má
digestão e todos os desprazeres decorrentes dela. Aí vem o problema do
excesso de peso. A obesidade pode desencadear problemas respiratórios,
problemas de coração, de locomoção, entre outros que podem levar uma
pessoa à morte prematura.
O excesso de mimos a uma criança pode torná-la um ser humano altivo e
egocêntrico. Assim como o excesso de correção pode torná-la uma pessoa
insegura e instável emocionalmente. O excesso de consumo pode afundar um
ser humano em dívidas. O excesso de álcool pode incitar à violência e
dependência dele. O excesso de trabalho pode causar estresse. O excesso
de pessoas em um local fechado pode causar acidentes graves. O excesso
de solidão pode levar à depressão…
Os excessos fazem mal. Isso por que os seres humanos não foram
criados para “acumular coisas em si ou em torno de si”. Minha mãe tem
razão, tudo o que é “demais” acaba sobrando mesmo. Ao pensarmos sobre
isso, chegamos à conclusão de que nosso desequilíbrio e nosso desejo
pelo acúmulo de coisas podem ser um exercício e um estímulo ao egoísmo e
à independência humana.
Ao querermos “mais” daquilo que já temos em quantidade suficiente,
podemos tentar preencher outras lacunas vazias de nossas vidas. É a
famosa ”fuga da realidade”. Tentamos substituir aquilo de que realmente
precisamos por aquilo que pensamos precisar. Ao nos estimularmos na
prática dos nossos desejos desenfreados, perdemos a essência daquilo que
fomos criados para ser: nascemos para amar a Deus e para amar ao nosso
próximo.
Quando nos concentramos em nossos desejos por “mais”, nos esquecemos
de que dependemos de Deus, de que nosso fôlego de vida vem dele e que
por isso Ele merece o primeiro lugar em nossas vidas.
Em Mateus 6 à partir do verso 2, Jesus diz: “Por isso vos digo: Não
andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo
que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de
vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o
vestuário?”
De acordo com Jesus, não podemos servir a Deus e às riquezas. Não
podemos servir a Ele e às coisas ao mesmo tempo. Quando andamos ansiosos
pelas coisas, as valorizamos mais do que a Ele e até do que nós mesmos:
“Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o
vestuário?” A base do “amar a si mesmo” não está em suprir-se com as
coisas, mas em suprir-se em Deus que é a fonte de toda vida. O
equilíbrio do ser humano depende do quanto ele se relaciona com Deus.
Jesus continua dizendo a partir do verso 26:
“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam
em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito
mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus
cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário,
por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles
crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em
toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim
veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não
vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? Não andeis, pois,
inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos
vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo
vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas,
buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas
vos serão acrescentadas.”
A plenitude real, a felicidade plena está em confiar e se relacionar
com Deus. Quando estamos meramente envolvidos na satisfação dos nossos
desejos, automaticamente, fechamos os olhos para toda e qualquer
necessidade do nosso próximo. Os principais mandamentos são amar a Deus
sobre todas as “coisas”, colocá-lo em um patamar, num grau de
importância mais elevado do que as coisas; e amar ao próximo “como a ti
mesmo”, tratar as pessoas e desejar a elas aquilo que quero para mim
mesmo. Contribuir para que elas percebam e tenham em Deus a fonte da
felicidade plena e também para que vivam com dignidade.
Por: Nívea Soares
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